Transmitida pelo mesmo mosquito, doença que chegou ao Brasil em setembro já foi registrada em 16 Estados.
Vírus provoca dores nas articulações que podem durar até anos; Amapá e Bahia concentram maior parte dos casos.
Para Maria Jussara Oliveira, 50, o dia 4 de setembro virou uma data "inesquecível", mas não por uma boa notícia. "Fui dormir e, quando acordei, já não conseguia me levantar direito. Doía tudo."
A explicação levou quase 60 dias para aparecer. Mas tinha nome: era febre chikungunya, doença conhecida como "prima" da dengue por ser transmitida pelo mesmo mosquito, o Aedes aegypti.
Antes tida como nova preocupação do verão, a chikungunya acabou ficando em segundo plano devido ao avanço da dengue. Mas a doença que chegou ao Brasil em setembro continua a crescer.
Ao todo, cinco Estados têm registro de pacientes que contraíram o vírus da chikungunya dentro do país. São eles Amapá e Bahia, principalmente, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e Roraima. Também há ocorrências sendo investigadas em Minas.
Outras 11 unidades da federação têm casos importados, de pessoas que foram infectadas no exterior.
Em todo o país, dados do Ministério da Saúde apontam 6.209 casos autóctones (adquiridos no país) desde o início da transmissão --2.552 neste ano. O número real, porém, provavelmente é muito maior, pois há demora na notificação dos Estados para o governo federal.
Só na Bahia, a secretaria de Saúde informa 5.935 notificações desde setembro de 2014. Em 2015, já são 3.397.
E, se no início a chikungunya estava concentrada em poucos bairros de Feira de Santana, uma das cidades com mais casos, agora ao menos 76 apresentam registros.
"Isso nos preocupa, porque a dengue é um caminho para a chikungunya", diz Denise Mascarenhas, secretária municipal de Saúde.
Situação semelhante é vista em Oiapoque, no Amapá, com ao menos 886 casos confirmados, de acordo com o governo estadual.
VÍRUS IMPORTADO
A entrada do vírus importado deixa em aleta os 11 Estados do país atingidos, pois há risco de que o mosquito Aedes aegypti entre em contato com a pessoa infectada e, a partir daí, passe a transmitir o chikungunya.
Com a explosão da dengue em alguns Estados, o risco se eleva. "O fato de já termos [casos autóctones] no Mato Grosso do Sul deve deixar São Paulo em alerta permanente", afirma o médico infectologista Carlos Magno Fortaleza. São Paulo tem sete casos importados confirmados.
O ministro da Saúde, Arthur Chioro, afirma que ainda não é possível prever a evolução da doença, mas que os dados indicam tendência de redução em alguns locais.
SINTOMAS
Embora com sintomas parecidos nos primeiros dias, a chikungunya se difere da dengue por dores nas articulações que podem se estender por meses --ou até anos.
Quase sete meses depois dos primeiros sintomas, Maria Jussara ainda toma remédios para driblar a inflamação nos ombros. "Às vezes, não consigo nem me vestir sozinha. É muita dor", diz a moradora de Riachão do Jacuípe (a 190 km de Salvador). (NATÁLIA CANCIAN - Folha de S.Paulo)
Fonte - UNIDAS