04/05/2015 - Febre chikungunya avança pelo país


Transmitida pelo mesmo mosquito, doença que chegou ao Brasil em setembro já foi registrada em 16 Estados.

Vírus provoca dores nas articulações que podem durar até anos; Amapá e Bahia concentram maior parte dos casos.

Para Maria Jussara Oliveira, 50, o dia 4 de setembro virou uma data "inesquecível", mas não por uma boa notícia. "Fui dormir e, quando acordei, já não conseguia me levantar direito. Doía tudo."

A explicação levou quase 60 dias para aparecer. Mas tinha nome: era febre chikungunya, doença conhecida como "prima" da dengue por ser transmitida pelo mesmo mosquito, o Aedes aegypti.

Antes tida como nova preocupação do verão, a chikungunya acabou ficando em segundo plano devido ao avanço da dengue. Mas a doença que chegou ao Brasil em setembro continua a crescer.

Ao todo, cinco Estados têm registro de pacientes que contraíram o vírus da chikungunya dentro do país. São eles Amapá e Bahia, principalmente, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e Roraima. Também há ocorrências sendo investigadas em Minas.

Outras 11 unidades da federação têm casos importados, de pessoas que foram infectadas no exterior.

Em todo o país, dados do Ministério da Saúde apontam 6.209 casos autóctones (adquiridos no país) desde o início da transmissão --2.552 neste ano. O número real, porém, provavelmente é muito maior, pois há demora na notificação dos Estados para o governo federal.

Só na Bahia, a secretaria de Saúde informa 5.935 notificações desde setembro de 2014. Em 2015, já são 3.397.

E, se no início a chikungunya estava concentrada em poucos bairros de Feira de Santana, uma das cidades com mais casos, agora ao menos 76 apresentam registros.

"Isso nos preocupa, porque a dengue é um caminho para a chikungunya", diz Denise Mascarenhas, secretária municipal de Saúde.

Situação semelhante é vista em Oiapoque, no Amapá, com ao menos 886 casos confirmados, de acordo com o governo estadual.

VÍRUS IMPORTADO

A entrada do vírus importado deixa em aleta os 11 Estados do país atingidos, pois há risco de que o mosquito Aedes aegypti entre em contato com a pessoa infectada e, a partir daí, passe a transmitir o chikungunya.

Com a explosão da dengue em alguns Estados, o risco se eleva. "O fato de já termos [casos autóctones] no Mato Grosso do Sul deve deixar São Paulo em alerta permanente", afirma o médico infectologista Carlos Magno Fortaleza. São Paulo tem sete casos importados confirmados.

O ministro da Saúde, Arthur Chioro, afirma que ainda não é possível prever a evolução da doença, mas que os dados indicam tendência de redução em alguns locais.

SINTOMAS

Embora com sintomas parecidos nos primeiros dias, a chikungunya se difere da dengue por dores nas articulações que podem se estender por meses --ou até anos.

Quase sete meses depois dos primeiros sintomas, Maria Jussara ainda toma remédios para driblar a inflamação nos ombros. "Às vezes, não consigo nem me vestir sozinha. É muita dor", diz a moradora de Riachão do Jacuípe (a 190 km de Salvador). (NATÁLIA CANCIAN - Folha de S.Paulo)

Fonte - UNIDAS